domingo, 19 de junho de 2011

Poemas de Safo

Não podia falar de Safo e deixar de mostrar alguns de seus poemas.



A Átis
tradução de Décio Pignatari
Não minto: eu me queria morta. 
Deixava-me, desfeita em lágrimas:


"Mas, ah, que triste a nossa sina! 
Eu vou contra a vontade, juro, 
Safo". "Seja feliz", eu disse,

"E lembre-se de quanto a quero. 

Ou já esqueceu? Pois vou lembrar-lhe 
Os nossos momentos de amor.


Quantas grinaldas, no seu colo, 
— Rosas, violetas, açafrão — 
Trançamos juntas! Multiflores


Colares atei para o tenro 
Pescoço de Átis; os perfumes 
Nos cabelos, os óleos raros


Da sua pele em minha pele! 
[...] 
Cama macia, o amor nascia 
De sua beleza, e eu matava 
A sua sede" [...}


Cai a lua, caem as plêiades e 
É meia-noite, o tempo passa e 
Eu só, aqui deitada, desejante.


— Adolescência, adolescência, 
Você se vai, aonde vai? 

— Não volto mais para você, 
Para você volto mais não. 


(31 Poetas, 214 Poemas.  Sao Paulo: Companhia das Letras, 1996)

A uma mulher amada

Ditosa que ao teu lado só por ti suspiro!
Quem goza o prazer de te escutar,
quem vê, às vezes, teu doce sorriso. 


Nem os deuses felizes o podem igualar.



Sinto um fogo sutil correr de veia em veia
por minha carne, ó suave bem querida,
e no transporte doce que a minha alma enleia
eu sinto asperamente a voz emudecida.



Uma nuvem confusa me enevoa o olhar.

Não ouço mais. Eu caio num langor supremo;
E pálida e perdida e febril e sem ar,
um frêmito me abala... eu quase morro... eu tremo.


(fragmentos de um poema)
Tradução de Joaquim Fontes
"Parece-me igual aos deuses
ser aquele homem que, à sua frente sentado,
de perto, doces palavras, inclinando o rosto,
escuta,
e quando te ris, provocando o desejo; isso, eu juro,
me faz com pavor bater o coração no peito;
eu te vejo um instante apenas e as palavras
todas me abandonam;
a língua se parte; debaixo da minha pele,
no mesmo instante, corre um fogo sutil;
meus olhos me vêem; zumbem
meus ouvidos
um frio suor me recobre, um frêmito me apodera
do corpo todo, mais verde que
as ervas
eu fico
e que já estou morta
parece (...)
Mas (...)".

(Eros, Tecelão de Mitos. São Paulo: Estação Liberdade, 1991)




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